O Papagaio e o Doutor, França II

O Papagaio e o Doutor (França, 1997)

 

II

P: Por que você mesma adaptou seu texto para a língua francesa?
BM: Todos os textos deveriam ser adaptados pelo autor antes de serem traduzidos. Quando o autor não faz isso, o tradutor deve fazer. Não há como escrever numa outra língua exatamente o que foi escrito no original. Se a abertura de O Papagaio e o Doutor, que começa com uma referência à carta de Pero Vaz de Caminha, não tivesse sido modificada, o romance seria incompreensível para os franceses.

P: Você preferiu escrever O Papagaio e o Doutor em português ou francês?
BM: Dou graças aos céus por escrever em português, que é uma língua que permite a invenção, autoriza os neologismos e a estilização da oralidade. Na França, a escrita está dissociada da oralidade, a gramática reina e impera. É uma verdadeira saia-justa para o autor. Parece até que não houve Céline na França. Já o Mario de Andrade fez escola. A literatura brasileira é uma forma de oratória.

P: Reescrever o romance rendeu bons frutos?
BM: Descobri que a cultura brasileira é mais rabelaisiana do que a francesa. O riso é mais nosso do que deles. Por isso o tradutor, Alain Mangin, e eu reinventamos para o cartaz a frase de Rabelais, “O riso é próprio ao homem”, e o livro vai ser lançado com o seguinte slogan: “E se o riso também fosse próprio à mulher?”