Dora não pode morrer

Dora não pode morrer

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trecho

Espelho mágico, espelho meu, existe mulher mais saudável do que eu? Se houvesse, você não ousaria me dizer que sim. (Mostrando o muque para o espelho). Espelho mágico, escravo meu, existe mulher mais saudável do que eu? (Dora faz pose de campeã e se admira no espelho) Campeã de atletismo e natação! (Olha no relógio.) Já passou da hora. Não fosse a insistência de Vera, eu não iria ao “controle anual obrigatório”. Nunca tive doença alguma. Esta é a última vez que eu vou. (Começa a se vestir) Por sorte, a minha consulta é a primeira. Não vou ter que ouvir as histórias da sala de espera, as histórias infindáveis dos doentes do Doutor. “– Sem os cuidados do Doutor, eu não estaria aqui. Sem ele, eu sucumbiria”. (A atriz faz que sucumbe e volta rindo) Eu, hein? Nada é pior do que a credulidade.


resumo

Dora é médica e considera que sua saúde é infalível. Apesar de ter um bócio, faz pouco do controle da tireoide a que deveria se submeter. Ao contrário de Dora, a sua irmã, Vera, que teve u câncer e se curou, obedece cegamente o médico. Pressionada por Vera, Dora vai ao médico que aventa a possibilidade de um câncer e diz que é urgente operar. A reação de Dora, totalmente negativa, é inexplicável. Ela recusa a operação, pois esta convencida  de que “não pode morrer”. Na verdade,  embora seja médica e saiba que há pouco risco naquela cirurgia tão simples, Dora desacredita do tratamento, por razões inconscientes que a peça vai revelando, enquanto mostra que a cura depende do medico, mas também do paciente.

Ela acaba se operando, e a biópsia revela que era mesmo um cancer. Dora precisa aceitar que não é infalível.


histórico

Depois de ter escrito Dora não pode morrer, a sua sétima peça, a autora trabalhou no texto com o grupo de atores de Vozes, criado e dirigido por ela, recorrendo á técnica de púlpito, um teatro que dispensa recursos cênicos para valorizar a palavra. A peça teve sua estreia em São Paulo, capital, como parte do projeto Terça tem Teatro, do Instituto Itaú Cultural, no dia 18 de agosto de 2015. A encenação, com o Grupo Vozes, foi dirigida por Miguel Prata. Meses antes, em março do mesmo ano, o texto da peça foi publicado como parte do Teatro Dramático da autora.