na livraria

 

Amantes da palavra é uma homenagem saudosa à amiga Neide Archanjo, poeta maior da língua portuguesa. O livro é feito da troca de cartas entre as autoras, que  se encontraram em 1982 e por dez anos se corresponderam.

Trata-se do registro de duas maneiras de olhar o mundo, de duas formas de entender a existência, de duas mulheres que grafam as suas vidas a partir da sedução e tentação que as palavras provocam.

 

Heresia - Betty MillanHeresia é um romance que focaliza o fim da vida,  questionando o modo como ele é tratado na sociedade ocidental.Diz respeito ao prolongamento indefinido  da vida e o projeto da biologia molecular que pode nos transformar em seres amortais que nada têm a ver conosco. Daí o subtítulo do romance : tudo, menos ser amortal.

A autora aborda os difíceis temas relativos à longevidade: a indústria médica,  o suicídio assistido e a eutanásia. Sustenta que morrer é um direito e quem aceita a morte vive melhor. Apesar das reflexões graves, Heresia é um romance que faz rir.

 

Lacan Ainda - Betty Milan“Fiz análise para me curar de mim”— é com essa revelação impactante que o leitor é arrebatado no vórtice do testemunho da análise de Betty Milan com Jacques Lacan.Betty se debruça sobre a sua análise com Lacan focalizando a maneira como ele trabalhava, ou seja,  sustentando a transferência através do corte da sessão e não através da interpretação do significado do discurso do analisando. Lacan não respeitava a regra de 45 minutos para a sessão estabelecida pela Associação Internacional de Psicanálise porque não era o tempo cronológico que contava para ele, mas o discurso do analisando. Assim que o essencial havia sido dito, ele considerava que a sessão estava terminada.

Em seu relato, a escritora e a psicanalista se dão as mãos para contar a saga da analisanda e nos levar a frequentar uma temporalidade inédita, que condensa vivência e fantasia, infância e idade adulta “.

 

Baal é uma história familiar. O patriarca e personagem principal, Omar,  narra um drama sempre atual : o da imigração.

No final do século XIX, quando seu melhor amigo é capturado por uma milícia para servir no exército inimigo, Omar é forçado a largar do seu país no Oriente Médio. Ao fugir da aldeia, coração partido, jura que voltará buscar a família e a noiva.

Embarca para os trópicos, atravessa o oceano e começa a vida na mascatagem, como os conterrâneos que emigraram para o Novo Mundo. Valendo-se da sua força física e da inteligência, vence as dificuldades, torna-se um próspero atacadista e constrói um palácio, Baal, «uma jóia do Oriente no Ocidente», para sua filha única, Aixa, e a família dela.

Só que, depois da sua morte, os descendentes dilapidam a fortuna. O patriarca, que morreu sem poder descansar em paz por causa dos conflitos familiares, vê a guerra do país natal se repetir no país da imigração. Pervertidos pelo dinheiro e com medo do empobrecimento, os netos resolvem demolir Baal  afim de vender só o terreno e fazer com o palácio « o negócio mais rentável ». Tiram a mãe já idosa do lugar onde ela sempre morou e a transferem com a fiel servidora e o cachorro para um cubículo.

Indignado com o comportamento dos netos, Omar os culpa por não se darem conta da sua luta e do alto custo do berço de ouro que lhes proporcionou. Associa a crueldade deles à vergonha das origens. Diz que, além de xenófobos, são  desmemoriados, « sucumbiram no fundo negro do esquecimento». Para se opor a isso, ele rememora a história.

A rememoração o  obriga a reconhecer os seus erros. Não se empenhou em transmitir o que aprendeu na travessia e, por preconceito em relação às mulheres, não formou a filha, para ser sua sucessora. Se valeu dela para animar Baal, o seu pequeno império tropical, e não para que  o palácio continuasse a existir depois da sua morte e se tornasse o que deveria ter sido, um memorial da imigração.

 


e m  c e n a

 

Em 2018 a peça Adeus Doutor foi lida em Nova York, na New York School of Arts pelos atores Edoardo Ballerini e Jane Malmo, sob a direção de Richard Ledes, que adaptará a peça para o cinema.

Em 2019 os direitos para adaptação cinematográfica de Adeus Doutor e O Papagaio e o doutor foram comprados pelo diretor americano Richard Ledes. A filmagem foi feita com o ator David Patrick Kelly, no papel de Lacan e Ismenia Mendes, no papel de Seriema.

O filme, cujo título é Adieu Lacan, foi lançado em 2021 e distribuído para o grande público em maio de 2022, atualmente disponível no streaming Eventive.