JÚLIO DINIZ

JÚLIO DINIZ *

 

O trabalho de reescritura de um texto literário nem sempre pode ser entendido como um processo de “puro refinamento estético”. No caso do romance O Papagaio e o Doutor, da psicanalista e escritora Betty Milan, publicado originalmente em 1991 e relançado no início de 1998, o procedimento foi muito menos o de refinar o texto primeiro e muito mais o de reafiar a lâmina poderosa de uma narrativa que se desejava constitutiva de uma “subjetividade etnográfica”. No ritmo cinematográfico das narrativas de viajantes, no gosto exótico da fala estrangeira sobre o outro e sobre si mesmo, no olhar pictórico dos cronistas debruçados na planta baixa das ruínas da história, Milan constrói um texto-diário a partir de uma inversão da experiência clássica do antropólogo que se desloca do centro para a periferia do mundo civilizado.

A trajetória de Seriema, a protagonista do romance, de Açu para a França, interpõe elementos de distintos matizes culturais (reflexões no campo do multiculturalismo, questões ligadas à representação da nacionalidade, gênero e identidades sociais), tensiona formas literárias consagradas (o autobiografismo, a interface poesia/prosa, a épica narrativa). No complexo narrativo, o pacto autobiográfico, no sentido empregado por T Lejeune, a ficção que reinventa a história e o ensaio sobre questões nodais da contemporaneidade se misturam num relato muito mais ao gosto de uma antropologia dos afetos individuais e coletivos de uma civilização arquitetada sobre o arenoso solo da multiplicidade ética e heroísmo étnico do que no áspero set psicanalítico. Quem nos narra a história de uma circunavegação não é a ex-paciente do “incomparável doutor Xan” e sim a herdeira da incansável Xerazade: discípula da máquina de contar sonhos para não fenecer, distante da analista dos sonhos que fenecem.

Seriema, cumprindo o desígnio materno, rumo à compreensão de sua identidade, vê-se diante da possibilidade de construção às avessas de uma subjetividade a partir da linguagem que a (d)enuncia. Refaz a história da descendente dos que abandonaram o Cedro para construir a utopia da América, representante de uma família de apátridas, que se encontra quando se despede, que se reconhece estrangeira de Paris e de si própria, resgatando no plano da memória individual e coletiva a saga de uma família de turcos come-gente amalgamada com o “ão” dos açuanii. Refletindo sobre a condição de estrangeiro, Julia Kristeva afirma:

 

Em nenhum lugar se é mais estrangeiro do que na França. (…) No entanto, em nenhum lugar se é melhor estrangeiro do que na França. Uma vez que permanece irremediavelmente diferente e inaceitável, você é objeto de fascinação: é observado, falam de você, odeiam-no ou admiram-no, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Mas você não é uma presença banal e negligenciável, um fulano ou um sicrano. Você é um problema, um desejo positivo ou negativo, jamais neutro. (1994:44-45)

 

O Papagaio e o Doutor narra a viagem de Seriema para a sua aprendizagem civilizatória. Descobrindo se pertencente ‘a beleza do luminoso excesso parisienses mas saudosa (como explicar “saudade de pé-de-moleque” ao doutor?) das brincadeiras da infância, das personagens familiares (Hila, Jarja, Faia, lana, Raji), dos contornos de sua cidade açuana (“Dá-lhe garrafa de pinga e as folhas secas de mandinga / Deixa estar o Nordeste Tão / Nessa carambola a gente escorrega com a língua / Tuas colinas e vales hoje sem vista / Tua saudosa rua Boa Vista! Tua memória que eu louca de Tão procuro como agulha no palheiro”) Seriema aceita o exílio como condição para o seu reconhecimento (“…aliando a possibilidade de descobrir que o desterro era a condição de quem, só se desterrando, saberia de si, concluiria que a imigração era a história dos outros e a França um ideal que não era propriamente o seu”).

O olhar peregrino de Seriema inscreve no corpo as tatuagens tribais do sujeito contemporâneo, deserdado da “lógica da identidade” (fixa, estanque, tipificada, coerente, estável), marca da modernidade, esvaziado em sua essência e deslocado do lugar antes ocupado pela visão racionalista de uma ordem estável e imutável. Segundo a ensaísta Eneida Maria de Souza, “o sujeito, assim mal instalado, despe-se das roupas metafísicas do sujeito cartesiano (e filosófico) e se dissolve na superfície chapada da linguagem na qual toda e qualquer noção de fundamento e princípio torna-se vazia”. (1991:36)

Instaura-se na paisagem contemporânea uma crise de representação que não só desestrutura a figura do sujeito observador e formulador de possíveis interpretações do mundo, como também a apreensão do objeto observado. Em outros termos, como falar de limites entre sujeito e objeto, território de enunciação e lugar do enunciado, se os grandes temas, os macrodiscursos e os conteúdos monumentalizados da cultura foram deslocados para a constelação da microhistória, a minimalização dos relatos, e a transdisciplinaridade como postura investigativa e política diante das galáxias epistêmicas.

Interessa-nos diretamente a discussão provocada pelo esgotamento da leitura de concepção hermenêutica clássica (metafísica/ontológica) e o surgimento de um novo quadro teórico-crítico marcado por: (a) colapso dos discursos omnicompreensivos deslocamento do espaço disciplinar dos saberes; (c) relativização dos conceitos de cânone e margens; (d) narrativização como leitura da História; (e) construção de identidades culturais múltiplas; (f) pluralidade interpretativa.

As noções clássicas de significado, sentido e interpretante ganham novos contornos e redefinições. A construção de um determinado sentido interpretativo para uma manifestação estética no contexto de sua recepção representa uma multifacetada teia discursiva. O lugar da literatura, por exemplo, como linguagem “específica”, fechada em seus códigos, formas e questões, constrói-se na interface de distintas representações culturais, passando por um processo de desreferencialização, reapresentando-se como uma instigante, descontínua e problemática encenação de diversidades, uma rede de processos interativos complexos, uma cadeia de relações comunicativas que se manifestam na entre-linguagem da produção e da recepção, do autor e do leitor, no solo conflituoso do multiculturalismo.

A leitura da produção de linguagens na esfera da comunicação entre distintos grupos sociais leva-nos a uma concepção de diálogo produtivo como um instrumental de força antropológica na configuração das identidades culturais contemporâneas, representativas de demandas sociais e desejos individuais e tribais diferenciados. A questão da identidade naciona – que hoje retorna com força no centro do debate cultural pós-colonial – interpenetra variantes ligadas a gênero, etnia, sexualidade, provocando a desconstrução de identidades fechadas e universais para a representação de identificações flutuantes, movimentadas pelos conflitos multiculturais. Não é de todo surpreendente o reconhecimento da importância da figura do estrangeiro, do dépaysé, do errante como flâneur pós-moderno diante das rumas ilegíveis de um mundo concebido na univocidade cínica e indistinguível da globalização. Nesta clave, Milan afia o seu texto, desfiando no tapete mágico da invenção o imaginário ancestral do ofício de contar uma história, desafiando o silêncio da fala diante da possibilidade enriquecedora da escuta, desafinando o texto monológico para, numa oitava acima, fazer da narrativa tessitura cultural polifônica, artefato cultural que desliza na heteroglossia.

A trajetória de Seriema diante de sua condição de estrangeira é operacionalizada por Milan através do que aqui poderíamos designar “o olhar (do) estrangeiro”. Olhar potente sobre a representação cultural, ele se insere no estatuto de construção de uma identidade inversamente simétrica à ordem social. Refletido especularmente no outro, o mesmo se indefine, se transforma em fragmentos recortados de imagens, movimentos, espaços, discursos e emoções mediatizado pela potencialização da fala da memória. Por se saber dividido, exilado de si mesmo, o estrangeiro olha o exterior de sua fronteira como necessidade de traduzir o visto, o vivido. Traduzir – adaptar, codificar, identificar, enfim, buscar interpretações. Na busca da origem perdida, o seu olhar babeliza a língua em indecidíveis rumores. Suturam-se margens distintas: o eu do outro, o lugar de onde se veio e o lugar onde se está, a língua materna e a língua madrasta, a tagarelice e o silêncio.

A condição estrangeira possibilita a Seriema descobrir-se como objeto construído pela leitura do outro, e ler-se como sujeito em construção diante da rasura da origem e do sentimento de não-pertencimento. Errante, visionária, além-horizonte, Seriema-viajante-de-si-própria descobre que “a viagem é, em si mesma, um estado de identidade”, nas palavras do cineasta Win Wenders. Entrecruzar América e Europa engendra o ato circunavegador de sair de seu espaço, sair de si próprio para outras margens, bordas terceiras, limites impenetráveis. Ela ressemantiza com suave barbárie a desterritorização, fazendo da ficção a memória não lida pela voz papagaio do doutor.

Postulados como morte do autor, apagamento da noção de origem e deslocamento do lugar da verdade provocam uma radical mudança quando se pensa em leitura. Toma-se, aqui, o conceito de leitura não como uma ação monolítica, atomizada na figura do leitor como decifrador de ocultamentos de um texto-verdade. Ler um texto-literatura, ou um texto-quadro ou um texto-música, ou qualquer manifestação cultural – corpo, casca, vísceras, paisagens – passa a ser um complexo procedimento de operações interpretativas inscritas na linguagem numa tensão entre discursos.

O conceito hermenêutico tradicional de leitura centrava-se na idéia de construção da representação de alguma manifestação cultural, com códigos pré-definidos buscando dar visibilidade a sua essência, comunicabilidade ao seu conteúdo e objetividade ao ato interpretativo. Em tempos pós-modernos observa-se o mecanismo inverso: representa-se a construção da linguagem como encenação de um texto. Há a superação de uma leitura de complementaridade prática em que o leitor faz o texto fechar-se como significado revelado, sentido oculto decifrado e interpretante da sua profundidade. Emerge, em contrapartida, uma leitura sob o regime de superfície, em que o agenciamento das forças que atuam na representação do texto “abandona a cena do profundo (no que ela importa como centro, unidade, verdade) e procura examinar a exterioridade, os cruzamentos e as relações que constituem um texto, como superfície-plana, labiríntica e vertiginosa” como afirma o crítico Roberto Corrêa dos Santos. (1986:84)

O leitor já não é mais o perseguidor das intenções veladas do autor, mas aquele que, suplementando o texto primeiro, rasura-o com a sua potência de produção de sentidos outros, com a sua vontade de transcriar as noções antes inabaladas de origem e autoria.

O seu procedimento de leitura constrói-se como uma assinatura escritura1, ressemantizando o texto, emprestando a ele novos sentidos, deslocando-se, num jogo especular, pelas esquinas da escritura. Seriema-leitora produz uma biografia desautorizada do doutor, e por ela se autobiografa, propondo narrar a viagem Brasil/França/Brasil a partir de uma nova “subjetividade etnográfica”. Segundo James Clifford: «A subjetividade etnográfica é composta pela observação participante num mundo de artefatos culturais ligados a uma nova concepção de linguagem, ou melhor, linguagens, vista como distintos sistemas de signos”. (1998: 103)

Seriema-leitora já não é mais a perseguidora dos significados mas a provocadora de jogos inter/intra-textuais, como o personagem Guilherme de Baskerville, o leitor-detetive de O nome da Rosa, de Umberto Eco, dialogando com o Venerável Jorge, o guardião cego da biblioteca do mosteiro, encenação do escritor argentino Jorge Luis Borges, diante dos labirintos e espelhos das narrativas. Leitor de Borges, Eco o ficcionaliza no seu romance, transformando-o em autor de uma leitura sobre a possível existência do livro desaparecido de Aristóteles, dedicado ao riso e à comédia. O autor-leitor Eco, pesquisando através do narrador-leitor Baskerville o livro perdido de Aristóteles, dialoga com o leitor-autor Borges, encenado na figura do Irmão Jorge. A ficção de Eco, portanto, entrecruza Borges e Aristóteles, multiplica-se em ficções, babeliza a tradição cultural ocidental, devolvendo ao leitor a possibilidade de percorrer em abismo, por outras veredas, os bosques dessa narrativa-biblioteca poliangular.

Eco encena, de uma certa maneira, o que o próprio Borges havia feito em PierreMenard, autor dei Quijote. Mas a proposta polifônica do escritor italiano passa por uma simetria às avessas, se considerarmos que, no conto de Borges, uma das questões presentes é exatamente o lugar da literatura latino-americana diante dos modelos culturais da tradição ocidental. Sobre o conto, afirma o pensador brasileiro Silviano Santiago:

 

Pierre Menard, romancista e poeta simbolista, mas também leitor infatigável, devorador de livros, será a metáfora ideal para bem precisar a situação e o papel do escritor latino-americano, vivendo entre a assimilação do modelo original, isto é, entre o amor e o respeito pelo já-escrito, e a necessidade de produzir um novo texto que afronte o primeiro e muitas vezes o negue. (1978:25)

 

O autor contemporâneo apresenta-se como o “leitor infatigável, devorador de livros”, em constante e turbulento diálogo com a tradição cultural. O autor-leitor de nosso tempo intertextualiza os relatos, tensiona discursos, assina, sob o regime do pastiche, histórias já contadas, mas que, apropriadas, deixam de ser as mesmas, apagam o marco da origem e a neurótica possessividade da autoria.

O leitor contemporâneo aparelhado, nada inocente, não é mais o destinatário das mensagens ou o tradutor de significados e sentidos. Sua leitura fragmenta e dispersa o texto em interpretações marcadas pela busca da diferença, da fissura e do suplemento. O interpretante, tradicionalmente disposto no corpo do significado, desloca-se para o significante do corpo, seja ele o da linguagem, o do próprio leitor e, num sentido mais crítico, o da própria cultura.

Seriema antropofagiza o discurso do doutor sabendo que fala a sua língua e, além dela, uma outra, o misterioso açuano. Sua mátria-língua desnuda a possibilidade plural de uma pulsante identidade recalcada nos ícones de uma mitologia falseada. Buscar o ouro do saber do doutor quando a aurífera banana carnavalizada dos trocundos e graciosos jogadores de futebol de várzea desfilam zecelseanamente nos cordões do delírio de Joãosinho Trinta. Trinta, não, Seriema descobre-se trezentas. Articular na babel cultural de sua trajetória os tableaux parisienses desenhados como mesquitas debruçadas sobre os sobrados da Bela Vista à margem do sena–tietê-de-janeiro. Milan desarticula ironicamente um sistema cultural através de seus mais perversos mecanismos de controle: a não-escuta que desqualifica a voz da alteridade, o recalque do colonizado, o poder de um saber institucional. Em seu lugar, deixa vazar, através da contundente e atualíssima crítica às elites brasileiras, o plano de vôo migratório de Seriema para as palmeiras altivas e castigadas das paisagens de Açu.

Betty Milan nos deixa uma afiada narrativa sobre nós mesmos – paixões, impasses, encontros e faltas. No diálogo intertextual com outros discursos ditos “fundadores” da literatura brasileira, a escritora-leitora de Alencar, Lima Barreto, Oswald e Mário de Andrade, entre tantos, debruça-se sobre a tradição de pensar criticamente os brasis e os brasileiros. Milan parece reler Macunaíma para Iracema, entre máquinas-carro, máquinas-edifício, máquinas-livro. E como Mário de Andrade, eu diria: “Só o papagaio servava no silêncio as frases e feitos do herói”.

 

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* Professor de literatura brasileira da PUC-RJ e ensaísta. Texto publicado com o título Narrativa Ficcional e Narrativa Etnográfica  in revista Palavra nº7, Departamento de Letras da PUC, Rio de Janeiro 2001