trecho

 

O Sexophuro

travessia nova, a escrita escuta à cata da palavra, sua própria, onde o antigo drama se esvaía, adeus à clausura do apego, a ele e à Outra, no torno do que mais precisava, saber de si o desejo qual era

pulsando através da memória, enquanto o amanhã se urdia no saber do que queria, o nome próprio e a palavra que o sustinha

o desejo que agora se escrevia, exigindo-lhe o gozo contido do corpo na letra, sua memória do futuro,

o real de um furo que se repetia,

o sexo furo onde só a falha de garantia

 

A Paixão de Lia

Dali me separa as pernas e, só com separar, me reacende no meio a labareda. Naaaau, Agora, na voz de Billie, e é Dali apagando no meu antro o próprio fogo, ora na boca do túnel me dizendo Lia, ora no fundo sussurrando Paixão, me atirando molhada numa praia longínqua, onde não sei da história que tive.

 

O amante brasileiro

De: Clara
Para: Sébastien
Assunto: o amor está acima do gozo
você fez a eternidade soar mil e uma vezes
graças ao modo como você chega Sebastião
me enredando na tua doçura
espantando o medo
verdade que medo de sexo eu nunca tive
talvez por isso eu nunca tenha tido cuidado comigo
quem aliás me ensinou a cuidar do corpo foi você
sussurrando a palavra devagarinho no meu ouvido, quando nós
transamos pela primeira vez
devagarinho, quando o teu sexo se encostou no meu
tão rijo que me deixava ávida


resumo

A Trilogia do Amor reune O sexophuro, A paixão de Lia e O amante brasileiro,  três  ficções sobre o amor. O sexophuro se origina no drama de um casamento impossível e focaliza uma mulher que procura uma outra  saída para si. A paixão de Lia diz respeito a uma mulher que, para compensar a falta do amado, se deixa levar pela fantasia. Passa de uma a outra situação imaginária e se realiza  através da liberdade de imaginar, mas permanece só, do começo ao fim da história.  Já em O amante brasileiro, a mulher encontra  um  verdadeiro parceiro. Por isso o  romance é centrado em dois personagens, Clara e Sébastien, que se amam realmente e acima de tudo querem o acordo. A comunhão, que a personagem de O sexophuro sequer imagina e Lia só alcança imaginariamente, é vivida de maneira plena na realidade por Clara e Sébastien, que são amantes e irmãos de alma.


histórico

A Trilogia do Amor reúne três romances da autora: O Sexophuro (1981), A Paixão de Lia (1994) e O amante brasileiro (2003). Agrupadas em um só volume, pela editora Record, as três obras apesar de distintas apresentam um fio condutor, o amor e o erotismo.

A Paixão de Lia e o Amante Brasileiro foram adaptados para o teatro, pela autora, em 2002. A peça foi lida pela atriz Giulia Gam e pelo ator e diretor José Celso Martinez Corrêa no Auditório da Folha, com direção do próprio José Celso.

Dois anos depois, em 2004, O Amante Brasileiro foi lido no Teatro Oficina e no Auditório da Folha com atuação de Luciana Domschke e Ricardo Bittencourt, atores do Oficina, e direção de Fransérgio Araújo.


opinião

 

O sexophuro

“Considero O sexophuro um belíssimo texto em que a prosa é tratada com a sensibilidade e o cuidado minucioso da poesia.”
Leyla Perrone-Moisés, carta de 14/03/1981

A paixão de Lia

“Uma polifonia de vozes e um tipo de ficção cuja inventividade se sobrepõe à forma. A autora começa a entrar numa linhagem de escritores da qual fazem parte Lúcio Cardoso e Clarice Lispector.”
Deonísio da Silva, Jornal do Brasil, 28/01/1995

O amante brasileiro

“O romance poderia ter o subtítulo de ‘Versículos amorosos’, tal a concisão da autora e o empenho em alterar a estrutura tradicional da prosa romanesca, aproximando-se de linguagem que lembra o tom bíblico do Cântico dos Cânticos.”
Deonísio da Silva, Coluna Etimologia, Caras, 12/12/2003


área de interesse

Literatura, Psicologia e Psicanalise.


fortuna crítica

Amor e erotismo, Corpo e escrita
Claudio Willer

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